30 de mar. de 2009

Sou sado mas sou limpinha!

É precisamos pedir emprestado o bordão da ‘diarista’ e aliar às outras tantas explicações mais esta. Depois do desfavor feito pela TV Record na escolha de uma família dita “fetichista” para o programa “Troca de Família” expondo uma pessoa de vida tradicional inclusive a condições de higiene nada aceitáveis.
Este talvez o ponto mais revoltante, para a comunidade BDSM&Fetiches.
Em primeiro lugar já existe uma celeuma própria dentro da nossa comunidade a respeito de uma representação dessa forma tão particular de vivenciar seus desejos e/ou fantasias. É tácito que não há uma representação única que possa referenciar este universo tão amplo e diversificado.
Qualquer opção que se faça por pessoas, casas e/ou festas que simbolizem nosso meio terminam por ser restritas a uma das variadas formas de externar essa sexualidade. Os mundos fetichista e BDSM (bondage&disciplina, dominação&submissão e sadomasoquista) que se aliam por identificação mas se diferenciam pela forma de vivenciar suas escolhas, caracterizam-se principalmente pela diversidade de práticas e mais ainda pela expressão das mesmas de forma absolutamente singular.
Para melhor entendimento é preciso somente lembrar que o universo de fantasias e/ou fetiches nasce da imaginação de cada um e a mente é absolutamente livre, o pensamento é espetacularmente único.
Nas primeiras manifestações diante do programa já tive vontade de expressar minha indignação com a postura da família dita fetichista em ‘exigir’ aceitação de suas opções enquanto desrespeitava totalmente a outra face da moeda. Mas talvez isso fizesse parte do “show” televisivo pautado principalmente na guerra de audiência.
Quando finalmente veio a público uma caracterização da prática sadomasoquista/fetichista como: - universo de supremacia feminina (um entre tantos mundos do nosso universo) - agressividade e desrespeito pelo outro;e, - sujeira.
Ficou difícil manter o silêncio que caracteriza a grande maioria dos praticantes.
Não se engane! Estamos aí dentro da sua casa, do seu trabalho, do seu meio social. Vivemos o nosso dia-a-dia normalmente. Casamos, criamos filhos, vamos às reuniões da escola, ao coquetel de lançamento do seu livro, à boate da hora e a todos os demais lugares que seres humanos freqüentam.
Estamos lá, vestidos tradicional e adequadamente ao ambiente que freqüentamos, falando sobre a política, a seleção brasileira, um novo tratamento estético, a próxima viagem da família. E quando finalmente nos recolhemos a nossa intimidade realizamos nossos fetiches e fantasias, com prazer e responsabilidade. Satisfazemos nossos instintos e equilibramos nossa sexualidade não exercendo a negação dos desejos e fantasias, mas realizando!
Da mesma forma que você não faz sexo com seu parceiro na nossa cara, também não precisamos vestir couro, botar correntes e saltos altíssimos e sair na rua pisando, chicoteando, amarrando.
Fazemos tudo isso, com prazer, higiene e responsabilidade – afinal se não cuidarmos de nós mesmos como dar continuidade ao nosso prazer? visto ser difícil encontrar o parceiro certo pra vivenciar essa sexualidade “exótica” – na nossa intimidade, que pode sim ser privada ou em festas ou casas do gênero. Mas que não precisam de forma alguma extrapolar esses ambientes.
Falo por mim, mas tenho certeza de que também por muitos praticantes, que ao descobrir-nos sadomasoquistas e/ou fetichistas desejamos o respeito alheio e pautamos nossa atitude exatamente na máxima: é dando que se recebe.
Respeitamos para sermos respeitados!!!
Fica o repúdio a mais essa deturpação, pautada num exemplo não representativo, da nossa essência!